A pandemia afetou diversas áreas da vida das pessoas, inclusive as relações pessoais, com familiares, amigos e parceiros. De modo geral, após dois anos de isolamento, surgiu um tédio social e um estresse desencadeado pela falta de espaço e liberdade dentro de casa. Com o objetivo de refletir sobre a complexidade dos relacionamentos amorosos nos dias de hoje, o espetáculo “(Não) Te esquecerei em 3 atos e infinitos fatos” abre espaço para um debate horizontal sobre assunto comum a todos: o amor.
O grande diferencial do projeto é o bate-papo entre os atores e o público – mediado por uma psicóloga – após o espetáculo. Com foco em diferentes públicos, os debates fornecem escuta e análise – possibilidades almejadas, mas nem sempre conquistadas – ao público formado ora por jovens estudantes da rede pública de ensino, ora por jovens e adultos alunos de EJA, ora por mulheres convidadas pelo Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Ilhabela, e também pela audiência local em geral.
As apresentações são gratuitas, no Espaço Cultural Pés no Chão, e também visam a formação de público de teatro em Ilhabela. A primeira sessão acontece no próximo sábado (4/2), às 19h, aberta para o público em geral. No domingo (5/2), no mesmo horário, a peça foca nas mulheres da comunidade, muitas delas em condições de vulnerabilidade social. Na semana seguinte, as apresentações seguidas do debate serão para os alunos do Projeto de Alfabetização e Letramento de Jovens e Adultos da Associação Barreiros e para os alunos da Escola Estadual Dr. Gabriel Ribeiro dos Santos.
Haverá ainda uma exibição online, na quarta-feira (8/2), às 20h, com posterior bate-papo aberto aos internautas, através do Canal de YouTube da Cia Ilhôa de Teatro, companhia teatral local produtora do espetáculo..
Três casais
A obra, escrita pelo premiado escritor Leonardo Alkmim e com direção de Eduardo Estrela, traz a atriz Dri Carvalho e o ator Fabio Ronzano interpretando três histórias de amor diferentes com as quais todos nós nos identificamos, em um ou outro ponto, com maior ou menor intensidade. As cenas se passam em qualquer cidade de médio a grande porte, em qualquer lugar do mundo, com pessoas que vivem ou já viveram um relacionamento amoroso.
Em distintas fases da vida, três casais diferentes vivem o amor, suas venturas e desventuras, encontros, desencontros e reencontros. A primeira história apresenta um compêndio de comportamentos padrão masculino e feminino norteando o encontro de um casal num parque. Suas inseguranças, fruto destes mesmos padrões, vão sendo “superadas” encontro após encontro, através de ações e comportamentos socialmente esperados sem que eles se percebam mutuamente e sequer individualmente. Incapazes de entender e respeitar suas reais necessidades, desejos e limites, protagonizam situações que nos fazem rir de nós mesmos.
A segunda, de humor mais ácido, confronta o público com um casal maduro num casamento de longa duração que, pautado pelo medo da perda, não permite que vivam o amor que ainda existe na relação. No jardim de sua casa, na noite em que semanalmente ele vai para o jogo de pôquer e ela recebe seu amante, eles, embalados pelo álcool, conseguem se despir de suas personagens matrimoniais e deixam à mostra suas dores e inseguranças.
Por fim, a terceira história mostra o reencontro de um homem e uma mulher muitos anos depois de uma separação mal resolvida, em que a falta de amor não foi o motivo da ruptura. Onde foi que se perderam?
No amor, a repetição de padrões de comportamento e o medo do fracasso são realidades tanto para os protagonistas da obra como, em maior ou menor grau, para o público em algum momento da vida. Neste sentido, a obra utiliza o recurso da simplicidade para continuar fluindo nesta aproximação tão natural com o público: os três atos acontecem em um cenário ora de parque, ora de praça, ora de jardim de casa, fazendo uso apenas de um banco, criativamente posicionado e reposicionado ao longo dos atos sobre um ‘chão’ estilizado.
As trocas de personagens e passagens de um ato a outro são visíveis, deixando nas entrelinhas a mensagem de que todos nós também mudamos (e nos adaptamos) em vários momentos de nossas vidas. A escolha da trilha sonora – de autoria do músico argentino Lettieri – sensível e, por vezes, melancólica, finaliza o tom da complexidade do tema do espetáculo.
O projeto é viabilizado pelo financiamento da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Ilhabela, através do Programa de Estímulo à Cultura (PEC) e tem realização da Cia Ilhôa de Teatro.
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