A Fundação Japão promove, a partir do dia 10 de novembro, a exposição Ryukyu Bingata: Cores e Formas das Artes Têxteis de Okinawa. O evento traz uma programação com diversas atividades culturais paralelas gratuitas sobre o tema, que acontecerão até o dia 15 de dezembro.
Estarão expostos quimonos de bingata (sendo um Chinen e um Shiroma); um vestido de noiva ocidental, tingido com padrões bingata; quimonos produzidos por meio da técnica de tecelagem Bashofu, feitos de fibras de Itobasho (Musa liukinensis), uma variedade de bananeira de Okinawa, cujo frescor combina com o clima quente e úmido do arquipélago; quimonos de Ryukyu kasuri, tradicional técnica de tecelagem da cidade de Haebaru; bonecas tecelãs cedidas pela Associação Okinawa Kenjin do Brasil; exemplares de tecidos; além de artefatos do dia a dia, fotografias e outros itens que atestam a importância e o carinho dos okinawanos e seus descendentes no Brasil por seus tecidos.
Vale destacar que os quimonos de bingata e de bashofu foram classificados como patrimônios culturais imateriais pela Unesco, a agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Educação, a Ciência e a Cultura. Esta classificação está relacionada a expressões de vida e tradições que comunidades, grupos e indivíduos em todas as partes do mundo recebem de seus ancestrais e passam seus conhecimentos a seus descendentes.
A técnica bingata é um dos símbolos mais reconhecidos da identidade okinawana. Enquanto alguns artistas encontram novos usos para a técnica em roupas japonesas e de estilo ocidental, outros a empregam como meio para expressar seu próprio ponto de vista artístico.
Com a imigração japonesa, as técnicas de bingata também desembarcaram no Brasil, passando a representar a memória afetiva de uma terra tão distante, mas nunca esquecida por seus descendentes. Usadas nas artes, nas danças, nas músicas ou nos festivais, o bingata aqui encontrou singularidades próprias: temas e cores, formas e estilos tipicamente brasileiros, que poderão ser admirados na exposição.
As artes têxteis de Okinawa
Os tecidos são uma parte intrínseca da vida em todas as culturas ao longo da história. Usados como roupas, recipientes ou mera decoração, os tecidos unem as comunidades e são capazes de comunicar a posição social dos indivíduos, os valores culturais e a estética de um povo, ao mesmo tempo em que também realizam um propósito funcional.
A relação entre Okinawa e suas tradições têxteis nos revela não apenas a identidade artística e cultural de seu povo. Por meio dela, é possível observar a estreita relação do povo de Okinawa com a natureza e o clima das inúmeras ilhas que compõem o arquipélago. É da natureza que se extraem as fibras, as cores e as formas que dão vida aos diferentes tecidos okinawanos.
O Reino Ryukyu
Okinawa é a província mais ao sul do Japão, que compreende dezenas de ilhas semitropicais em uma cadeia que se estende por milhares de quilômetros de Kyushu até Taiwan, cuja privilegiada localização geográfica possibilitou, desde tempos remotos, o intenso intercâmbio comercial e cultural com diversos países asiáticos.
O arquipélago começou a se unir politicamente no século XV, como um reino chamado Ryukyu. Com sua capital na ilha de Okinawa, a maior e mais populosa da cadeia, o Reino de Ryukyu desenvolveu distintas tradições socioculturais, religiosas e artísticas, e permaneceu um reinado independente por aproximadamente 450 anos.
O Reino de Ryukyu manteve, durante muito tempo, relações tributárias e comerciais com a China e o Japão, países com forte tradição no tingimento e manufatura de tecidos. O comércio marítimo com diversos países asiáticos trouxe à Ryukyu tecidos da Índia, batiks de Java, materiais, acessórios e técnicas utilizadas em distintos processos de tingimento.
Acredita-se que a fusão de diferentes influências e materiais importados, através dessas antigas rotas comerciais, se desenvolveu, ao longo do tempo, numa técnica de tingimento que atende melhor ao clima e às matérias primas disponíveis no arquipélago. Surge assim a arte bingata.
O bingata
Patrimônio Cultural Imaterial do Japão, o bingata é uma técnica de tingimento exclusiva de Okinawa, na qual se usa uma pasta resistente aplicada a um tecido, à mão livre ou através de estênceis de papel, para evitar que corantes tinjam determinadas áreas, criando assim infinitos padrões multicoloridos.
Estudos revelam que a técnica se desenvolveu dentro do contexto da corte do Reino de Ryukyu, no qual têxteis coloridos marcavam a posição do usuário na hierarquia da corte. Tanto a cor quanto o tamanho dos padrões podiam indicar a classificação do usuário. Além disso, leis restringiam o uso de bingata à classe dominante e a corte controlava a sua produção.
Nessa época, a dinastia de Ryukyu concedeu especial autorização para três famílias se tornarem artesãs oficiais de bingata: Takushi, Chinen e Gusukuma (ou Shiroma), que passaram a transmitir a tradição da arte de geração a geração. Suas obras eram centradas em temas como pinheiros, bambus, flores de ameixeira, garças, tartarugas, crisântemos e paisagens naturais.
Com o colapso do Reino de Ryukyu, em 1879, os ateliês de bingata perderam o patrocínio da corte e das classes altas, e sua produção diminuiu drasticamente. Com a Segunda Guerra Mundial, a maioria dos exemplares dessa forma de arte foi destruída, juntamente com os ateliês remanescentes.
Depois da guerra, os artistas voltaram às ruínas de seus ateliês e começaram a usar itens descartados, como ferramentas e quaisquer sobras de panos como tecido, tingindo-os com todos os materiais que pudessem salvar. A tradição do bingata foi, assim, revivida das cinzas da guerra com muito esforço, utilizando-se prioritariamente materiais próprios de Okinawa.
Atividades Culturais
Todas as atividades culturais promovidas durante o evento são gratuitas e abertas ao público.
OFICINA DE BINGATA, com Sonia Ishikawa (15 vagas)
Uma oportunidade para conhecer um pouco mais sobre a Arte Bingata e o passo a passo do processo de tingimento.
Data: 10 de novembro (sábado) e 15 de dezembro (sábado)
Horário: das 14h às 16h
Classificação: 15 anos
Distribuição de senhas na biblioteca 30 minutos antes do início da atividade, uma por pessoa.
OFICINA DE KIRIGAMI, com Nori Sadoyama (15 vagas)
Os participantes confeccionarão três marcadores de páginas, com motivos de bingata, bashofu e Ryukyu kasuri, além de um hanagasa.
Datas: 16 de novembro (sexta-feira), 7 e 14 de dezembro (sexta-feira)
Horário: 14h às 15h30
Classificação: 12 anos
Distribuição de senhas na biblioteca 30 minutos antes do início da atividade, uma por pessoa.
BATE-PAPO SOBRE BASHOFU, com Mariane Koti Higa (15 vagas)
Os participantes conhecerão um pouco sobre a ida de Mariane a Okinawa, em 2014, como bolsista da Prefeitura de Oogimi. Na ocasião, ela vivenciou o dia a dia da fabricação da arte Bashofu.
Data: 17 de novembro (sábado)
Horário: das 15h às 16h
Classificação: livre
Distribuição de senhas na biblioteca 30 minutos antes do início da atividade, uma por pessoa.
BATE-PAPO SOBRE SANSHIN, com Sarita Sayuri Shirado Michels
Aproveitando a ligação entre os tecidos okinawanos e a música, será promovido um bate-papo sobre a fabricação de Sanshin 三線, instrumento de três cordas típico de Okinawa e precursor do Shamisen 三味線. Após o bate-papo, haverá uma apresentação de Sanshin.
Data: 8 de dezembro (sábado)
Horário: das 15h às 16h
Local: Biblioteca da Fundação Japão São Paulo
Classificação: livre
CONTAÇÃO DE ESTÓRIAS, com Aurora Kyoko Nakati Kinto e Celso Akihide Shiroma
Serão contadas duas estórias em japonês, uchinaguchi (dialeto de Okinawa) e português, utilizando dois livros: 『エイサーだいこでちむどんどん』 (Tambores de Eisa, o coração bate emocionado) e『おおづなひきでちむどんどん』 (Grande Cabo de Guerra, o coração bate emocionado).
- エイサーだいこでちむどんどん
(Tambores de Eisa, o coração bate emocionado)
Data: 24 de novembro (sábado)
Horário: 16h
Classificação: livre
Haverá pequena apresentação de Eisa após a sessão de contação de estória.
- – おおづなひきでちむどんどん
(Grande Cabo de Guerra, o coração bate emocionado)
Data: 1º de dezembro (sábado)
Horário: 14h
Classificação: livre
Haverá breve bate-papo sobre uchinaguchi (dialeto de Okinawa) após a sessão de contação de estória.
Ministrantes das Oficinas
Sônia Ishikawa
Descendente de imigrantes da Província de Okinawa, formada em Artes Plásticas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, estudou estamparia na Universidade de Artes de Okinawa, em 1996. Retornou a Okinawa em 1998 para estagiar no atelier do renomado mestre Eijun Shiroma, cuja arte poderá ser apreciada na exposição.
Nori Sadoyama
Nascido em São Paulo, é descendente de imigrantes da Província de Okinawa e possui formação em cursos de origami, kirigami, oshiê, kiriê e paper craft. Trabalha há 22 anos com artesanato e participa como convidado do grupo de bolsistas Urizun, no Okinawa Matsuri, realizado anualmente na região da Vila Carrão, onde ministra oficinas de kirigami.
Mariane Koti Higa
Nascida em Presidente Prudente (SP), é descendente de imigrantes da Província de Okinawa. É formada em Engenharia de Produção, com ênfase em Confecção Industrial pela Universidade Estadual de Maringá (UEM-PR)
Sarita Sayuri Shirado Michels
Nascida em Campo Grande, é descendente de imigrantes da Província de Okinawa. A luthier estudou durante um ano a arte da fabricação de Sanshin em uma cooperativa de fabricantes, em Okinawa. Hoje, trabalha na reforma e fabricação do instrumento.
Aurora Kyoko Nakati Kinto
Recebeu do Governo de Okinawa, em 2016, o título de Embaixadora da Boa Vontade de Okinawa (新ウチナー民間大使).
Celso Akihide Shiroma
Nascido em São Paulo, é descendente de imigrantes da Província de Okinawa. Possui graduação em Ciência Política e Teoria das Relações Internacionais na University of the Ryukyus e colaborou na publicação do Dicionário Okinawano-Português.
SERVIÇO
RYUKYU BINGATA
Cores e Formas das Artes Têxteis de Okinawa
Quando: 10 de novembro a 15 de dezembro de 2018
Terça a Sexta: 10h30 às 19h30 e Sábado: 9h às 17h
Onde: Biblioteca da Fundação Japão
Endereço: Av. Paulista, 52 – 3º andar, Bela Vista
Classificação livre
Entrada gratuita
Informações: (11) 3141-0110 ou biblioteca@fjsp.org.br
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