13/12/1996
Há vinte anos, em minha primeira vez ao Japão (1975), empolgado por poder divulgar as coisas do Brasil, levei vários slides com fotos das principais regiões do país.
Acreditava não ter problemas para exibi-los porque, na minha cabeça, todo japonês teria um projetor.
Puro engano.
Foi quando me debutei sobre os dois Japãos!! O moderno e o tradicional!
1.Como bolsista-estagiário fiquei na filial de uma empresa construtora, afastada cerca de hora e meia, em transporte coletivo, de uma grande cidade.
Algum tempo depois, já ciente de meu engano, fui àquela cidade para comprar, não um projetor, mas um mostrador de slides. Daqueles que com uma luz atrás de um plástico fosco ilumina e amplia o slide para permitir uma visão perfeita da imagem.
Assim, em uma das folgas de almoço, reuni um grupo de funcionários, todos japoneses e, orgulhoso, apresentei-lhes o Brasil. Elogiaram nossas belezas naturais, admiraram-se com São Paulo e a modernidade de Brasília… quando me veio o choque!
O chefe geral dessa filial, impressionado (?) com o mostrador de slides, perguntou-me se era “made in Brazil”!!
Pode?!
2.Quase dez anos mais tarde, quando estudava na Universidade Nagoya, muito antes do boom dekassegui, tive como vizinhos apenas cidadãos japoneses.
Certo dia, um deles, com quem tínhamos mais intimidade, quis saber por que viajávamos tanto pelo Japão. Respondi-lhe o óbvio: conhecer seu país e sua cultura!
Displicentemente, respondeu-me que não precisava sair de casa porque a televisão já lhe trazia tudo. Perguntei-lhe, então, o que sabia sobre o Brasil.
— Bom… rio Amazonas, índios e Carnaval no Rio — foi sua resposta!
Pode?!
3.Recentemente, um colega dekassegui contou-me detalhes de conversas que teve com a esposa do dono da fábrica onde trabalhou no Japão. Segundo ele, a “primeira dama” contou-lhe que nunca tinha ido a Tóquio e nem viajado no trem-bala que passava a menos de um quilômetro da fábrica.
Pode?!
Parecem fantasias de cronista, mas não é!!
A história milenar, a forte tradição cultural e a forma como foram atropelados pela modernidade em curtíssimo espaço de tempo, após mais de 2 séculos fechados ao Ocidente, justifica isso tudo.
(Pois é. Pode parecer estranho aos nossos olhos ocidentais, mas é muito difícil mesmo mudar hábitos e costumes milenares, ainda mais a um povo que teve os portos fechados, literalmente, aos estrangeiros por mais de 200 anos. Daí a razão do convívio do moderno com o tradicional, não apenas fisicamente naquele país… como na charge, em anexo, algo ainda possível de se ver)
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