(Publicado em 10/05/1996, no São Paulo Shimbun)
Certo dia, atento em busca de um endereço, andava eu pelas partes baixas da Rua dos Estudantes. De repente, senti que pisara em algo mole, macio… que se desmanchara ao peso de minha perna.
Não olhei de imediato. A quentura raivosa do meu corpo, provocada pela certeza em que pisara, paralisou-me por alguns segundos. Logo depois, ruborizado, procurava por alguns montículos de grama que ajudassem a me livrar daquele saldo grudado em meu sapato.
E lembrava, até com certa dor na consciência, de como ironizei os cuidados dos japoneses, lá na Terra do Sol Nascente, quando os via andando com seus cãezinhos pelas ruas. Sempre com uma pazinha e um saco plástico na mão, para dar cabo das necessidades sólidas dos bichinhos, enterrando-as nos parques mais próximos.
Por isso, no Japão, não corremos o risco de sermos surpreendidos pelos nossos próprios pés.
Confesso que até cheguei a rir desse comportamento. Mas depois, principalmente no momento em que limpava, revoltado, aquela pasta marrom do sapato, percebi que aquela atitude dos japoneses, nada mais era do que um exemplar sinal de respeito aos concidadãos.
E não paro aí. Ainda no Japão, cheguei até a flagrar uma senhora que, logo após o recolhimento dos excrementos de seu cãozinho… PASMEM!… limpou o bumbum do bicho!!
É lógico que não espero com isso, que os brasileiros que tenham animais, se comportem da mesma maneira. Conheço bem a nossa latina mentalidade.
Para ser franco, eu mesmo, ainda acho aquela cena do personagem cão o cão, de pazinha e saco plástico na mão, um tanto hilária… Prefiro não ter o animal.
Mas quem sabe, se fizerem esses passeios logo após eles terem feito as necessidades em casa não reduziriam um pouco a possibilidade de eu repetir meu desastre da Rua dos Estudantes?
Pensando bem, na certa, esse relato não passará daquilo que estamos acostumados a denominar Cultura Inútil.
Pois, quem pode me garantir que o que pisei era mesmo de cachorro?
(já naquele ano, recebi comentários de leitores. Um deles, de uma senhora, afirmando que eu não conhecia animais domésticos e não sabia que os danados querem sair de casa exatamente por isso. Agradeci-lhe e, com muito cuidado, contei-lhe que minha mãe tinha uma técnica para o cão não apenas fazer em casa como em um determinado lugar, sobre um jornal…)
Deixe seu comentário