15/11/1996
Na semana que passou, duas reportagens e um ensaio chamaram-me a atenção pelo caráter coincidente do tema.
A primeira (Notícias do Japão – 8/11/96), destacava a grande onda de furtos de tênis de marca praticada por jovens no Japão. A paixão por esse tênis acabou elevando o preço do par para até U$ 1.000, dependendo da marca.
De modo que num país de consumismo absoluto, como aquele, os limites das formas para conquista do objeto do desejo extrapolaram. Realmente um fenômeno em se tratando de um dos países de menor índice de delinquência juvenil do mundo.
A segunda (Veja – 13/11/96), era sobre o aumento impressionante da prostituição infanto-juvenil também naquele país. O motivo não era pobreza, mas, novamente, o consumismo desenfreado, dessa vez, por vestuário de grifes badaladas. 5.481 menores prostitutas foram detidas no ano passado, todas de classe média, motivadas por esse desejo de consumo.
Talvez como consequência, outro comércio paralelo prosperou: “burusera” (de roupas íntimas usadas, como calcinhas usadas, uniformes escolares suados e até maiôs molhados!)
E por fim, o Ensaio de Cláudio de Moura Castro (Veja – 13/11/96) que justifica tudo, onde aborda basicamente a atual mania americana de se fazer compras que denominou como O ópio do povo.
A moda seria disputar com unhas e dentes a forma mais barata de se comprar qualquer tralha, a melhor… e pelo menor preço. O prazer estaria no ato do comprar.. de duelar com o vendedor!
Usar? Depois? Quem se importava?
Mas quando Cláudio lembra que os intelectuais têm advertido sobre a alienação e desumanização causada pelo capitalismo… e complementa satirizando, com exatidão, que o “povo não escuta porque foi às compras”, tudo fica mais claro e se estende perfeitamente aos fenômenos citados.
E como golpe de misericórdia, aquela reportagem, acima, sobre furtos de tênis de marca se encerra informando que: “em geral, esses jovens ladrões ainda têm a gentileza de entregar sapatilhas novas, às vítimas, para que não voltem descalços para casa!
Incrível! Né, não?!
(Após mais de 25 anos, imagino que essas manias, tanto no Japão como nos EUA, tenham reduzidos…
mas não acabadas do jeito que ambas as sociedades ainda são muito consumistas. Né, não?!)
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