O “para jogar futebol” pode não ser plenamente verdade, mas o que ocorre todas as segundas feiras no campo do União da Vila Formosa é uma reunião de dinossauros, ou melhor, veteranos e/ou ex-jogadores do futebol da tradicional da conhecida várzea que, para se manterem em forma física… e mental, realizam torneios periódicos durante todo ano.
E isso já vem ocorrendo há mais de 12 anos quando tudo começou no campo society da Rua Pedro Voss, na Vila Carrão, em abril de 2011. “Com apenas dois times porque a maioria jogava, no mesmo dia, no campo da Manchester”, começou a contar Seigui Anagusko, um dos fundadores. “Mas como esse campo iria ser fechado temporariamente para troca de gramado, por grama sintética, quase todos da Manchester foram para a Pedro Voss, de modo que pudemos formar quatro times, dando início assim ao primeiro campeonato entre nós”, prosseguiu. “O regulamento era de que só poderiam participar jogadores acima de 50 anos de idade. Com isso, conseguimos atrair mais jogadores, e até amigos que já tinham “pendurados as chuteiras”, justificou. “Logo, foi possível formarmos 6 times, e chegarmos aos dez atuais porque, ficando conhecido no meio, outros jogadores mais, de outros bairros como Vila Prudente, Casa Verde, Saúde e até São Bernardo do Campo, entraram no grupo. Hoje, temos o Yoshiteru, com 75 anos; Tiça e Kiyoshi com 74 e o Paulão, com 74, como os mais velhos em atividade; sem contar o sr Walter e Valter Kamida que vêm pra jogar truco”, brincou. “O nome Dinos/Dinossaurus veio da turma que jogava futsal de segunda-feira no Menaka e 60% do pessoal são velhos conhecidos desde os anos 80 e alguns desde os anos 70”, assim, completou a história de sua formação.
O grupo realiza interessantes três torneios por ano entre eles, sendo o primeiro formado por times da Liga Japonesa; o segundo, este que acabou de finalizar, por times do Brasileirão; e, o próximo, por times da Liga Europeia. “Todos os jogadores devidamente uniformizados, até porque gostam e levam na esportiva”, completou Anagusko.
Este torneio que se encerrou nesta semana, do Brasileirão, contou com os times, em ordem alfabética: América (PR), Botafogo (RJ), Curitiba (PR), Criciúma (SC), Cruzeiro (MG), Flamengo (RJ), Fluminense (RJ), Grêmio (RS), Internacional (RS) e Ponte Preta (SP).
A final foi disputada entre América e Ponte Preta, com vitória por 3 x 2 a favor do América, sagrando-se campeã desse torneio do Brasileirão.
Na próxima semana já terá início o torneio relativo à Liga Européia.
Por nossas idades, futebol é apenas uma desculpa para nos reunirmos todas as segundas…
Haruo Nagahama, 63 anos, foi quem sugeriu essa matéria porque… “achei que fosse do interesse geral o fato de conseguirmos juntar essa galera de mais de cem pessoas, todas as segundas feiras. Não apenas para jogar futebol, mas também para nos confraternizarmos, nos celebrarmos… e com o futebol como sendo apenas a desculpa”, completou. “Com o nome atual de Dinossaurus da segunda, aqui fora somos todos amigos, mas lá dentro do campo jogamos como feras, dinos, pra valer, viu”, justificou sorrindo.
Ele, assim como o próprio Anagusko, e outros jogadores mais do grupo, são também cantores de karaokê e participam com frequência de concursos relativos, inclusive do Paulistão e Brasileirão.
Por isso, nesse local, não poderiam também ficar sem essa possibilidade, até porque têm todo o tempo para isso quando não estão em campo.
Tudo isso cria um ambiente descontraído, sadio e agradável para que até mesmo esposas e companheiras de alguns jogadores os acompanhem com frequência nesses compromissos semanais.
Os depoimentos, abaixo, justificam a razão de tanto tempo juntos e até de lista de espera para se jogar
Paulo Zenkiti Miyashiro, 73 anos – “Jogar aqui, pra mim, é o maior orgulho. Não esperava por isso. Fiquei parado mais de 15 anos. O Kenjão nos trouxe aqui. Gostei e acabei ficando. No começo a gente apanhou da bola, mas logo pegamos o ritmo. É tudo na brincadeira, mas dá para correr de verdade”.
Osvaldo Higa, 74 anos a caminho dos 75… tô brincando… rs – Vale a pena jogar… e não apenas aqui. Sempre joguei. É necessário, e o faço como exercício. Jogo aqui, nas segundas, mas jogo também nas quartas e sextas… rs. Não se pode parar senão enferruja… rs. Não dá pra correr como antigamente, não dá mais pra valer, mas como gosto de jogar, vou levando. Esse grupo é muito unido. Aguarde pelo churrasco!”, convidou.
Virgilio Shigueru Kuba, 75 anos – participo do grupo há 10 anos, um bom exemplo para mim. Vale de tudo, tanto da parte deles como de mim. Não joguei este campeonato, mas é muito gostoso vir todas as semanas. Não jogo mais devido à idade, mas vale a pena vir. Todo mundo unido. Não tem encrenca. Todos, amigos… até o jogo começar, corrigiu sorrindo.
Valter Sinko Kamida, 71 anos – Participo já há uns 15 anos, mas não jogo mais. Agora não dá mais. Agora, só truco!… rsrs. Continuo vindo, pela turma. Venho todas as segundas mesmo não jogando. E quando alguém não vem sentimos falta. É uma congregação de amigos. Acompanho outra turma aos domingos. Aqui joguei umas 3 vezes, mas não dá mais. Então, melhor não jogar do que atrapalhar… kkk
Joji Izumi, 68 anos – Acompanho esse grupo há mais de um ano, a convite dos amigos do karaokê. E permaneço porque, apesar de ter jogado tão pouco tempo devido a uma contusão. É um grupo muito descontraído, onde se joga bola, se xinga, dentro do campo… rs, ajudando a tirar o stress. Por isso, aguardo com expectativa as segundas apesar de ainda não poder jogar e nem cantar, o que também gosto muito. Gosto de ambos, mas pela minha situação física atual, e pela idade, entre o karaokê e futebol, optaria pelo karaokê… rs
Milton da Silva, 65 anos – Acho aqui uma alegria total. Não conseguimos ter harmonia tão grande em uma segunda feira como aqui! Mesmo que todos estejam estressados, vêm aqui amigos que nem se conhecem profissionalmente, para tirar o stress. Joguei durante muito tempo, joguei aqui, mas não jogo mais. Alegria total. Joguei com o Akirinha desde há 30 anos. Jogamos no Santa Clara. Temos amizade até hoje. Segunda feira é um dia esperado por todos nós. Em SP inteira existem outros grupos também, mas igual a este não tem. Toda segunda, média de 100 pessoas. Além disso, aqui, posso também cantar meus sambinhas, e sou o único gaijin do grupo que canta em japonês, finalizou sorrindo.
Kiyoshi Ishitomi, 73 anos – Estou desde o início, desde quando se formou o grupo. Jogo desde os 18 anos e, atualmente, jogo aos domingos e segundas. No de domingo, estou há quase 25 anos. Jogar com esse pessoal é muito legal e todo final de campeonato, tem churrasco. Logo mais começaremos o novo torneio para finalizar o ano. Nesse, que será o último, será uma festa só, tendo de tudo… do tipo bonenkai. E quem quiser, podendo trazer suas famílias. Este é um grupo muito unido. Não tem encrenca. Muito pacífico. Guerra só depois que se atravessa os portões ao gramado… rs. Turma muito bacana que se formou lá atrás, que veio do futebol de campo, mas virou para society porque não daria para jogar com jovens. E foi evoluindo. Regulamento a partir de 50 anos. É tão bom que tem até lista de espera… e o pessoal espera mesmo!
Márcio Toshiaki Anagusko, 39 anos – Como, por minha idade ainda não posso jogar, venho para conviver com eles e até jogar no gol quando falta alguém. Venho porque a intenção é para mim. Para meu futuro. Eles são exemplos para mim. O esforço que o pessoal faz pra jogar e juntar essa galera mostram que não preciso temer a velhice, podendo jogar. O empenho que eles fazem quero-o para mim, mais para frente. E como eles, unidos. Acabou o jogo, junta todo o pessoal para se confraternizar.
Ronie Hirata, 53 anos – Minha presença aqui é com o mesmo espírito do Márcio, que foi meu aluno na escola. Pensando no futuro. Até há pouco tempo jogava com pessoal mais novo. E ainda os encaro de vez em quando… rs. Mas os idosos daqui são exemplares, referências que quero ser também no futuro. É meu primeiro ano aqui, apesar de conhecê-los desde há muito. O legal, agora, é jogar com eles. Ainda jogo campo, mas não dá mais para acompanhar os jovens. Antes não gostava de jogar às segundas feiras, hoje, também aguardo ansioso as segundas.
Massanobu Anagusko, 62 anos – O intuito maior do grupo é juntar a galera, jogar conversa fora e até jogar futebol… rs. Sempre aguardo ansioso as segundas… mas também os sábados porque gosto de jogar, apesar de sessentão… rs. Temos até fila de espera, mas para entrar mesmo são selecionados. Por isso não há bagunça, não há confusão. Ficamos atentos para ver o perfil da pessoa. Se não está acrescentando nada ao pessoal, ou criando problemas, a gente dispensa, justificando o ambiente agradável desse grupo.
Sergio Teruinha, 61 anos – Realmente, essa organização é de se tirar o chapéu, porque todos são de boa competência e, por isso, considero que esse encontro com o pessoal do Dinos não pode se acabar. São amigos de gerações! Até porque o futebol é só para divertimento e o que temos de preservar mesmo é essa amizade de muitos anos. Dou os parabéns aos organizadores. Graças a vocês podemos estar juntos e com os amigos do Dinos. Já considero esse pessoal como uma família que começou há mais de 20 anos ou mais.
Edgar Ishida, 56 anos – Achei muito legal um grupo como esse! É muito importante!! Também faço parte de um com jogadores acima de 50 anos, mas que jogam futebol de salão, todas quartas feiras, em Santo André. Todos deveriam praticar alguma atividade física. É muito bom para saúde física e, bem como mental. No nosso caso, todas as quartas, após o jogo, fazemos churrasco. É um momento de esquecer os problemas e relaxar e porque te renova até a semana seguinte. (Edgar foi visitante, nesse dia).
Rosângela Vieira, Rosa do Bar União – Meu relacionamento com eles é o melhor possível, até porque se trata de uma galera muito animada, feliz, honesta e super participativa. É sempre em clima de festa, com churrasco nos finais dos campeonatos. É só alegria e nos divertimos muito. Grupo de 80 a 100 pessoas, com idade de 50 a 75. Inauguramos o Bar União antes da pandemia. Não bem um bar, mas uma lanchonete gourmet. Toda galera que vem aqui é muito bem recebida por nós (Benê e eu) e estamos de braços abertos aos que ainda virão nos visitar aqui no clube da Vila Formosa.
Para finalizar, Roberto Ishara, coordenador do Dinos desde 2019, informa que o grupo até está aberto a novos jogadores-amigos, mas respeitando a lista de espera devido ao horário no clube, e aberto a visitas independentemente de se jogar porque, conforme depoimentos, o ambiente é muito agradável e desejável.
Tanto que Anagusko contou que, certa vez, um dos jogadores falou para ele que… “esse nosso futebol das segundas não pode acabar, né, Seigui!”, sintetizando a impressão de todos sobre esse encontro de confraternização pelo futebol, às segundas.
Para localização do clube Vila Formosa, clique no link abaixo:
https://goo.gl/maps/JBd8WYQNF7ZN5yQ46
(Texto: Silvio Sano, com a colaboração de Seigui Anagusko – Fotos: Silvio Sano e Miwa Tamaki)
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