06/12/1996
A principal notícia da semana que me chamou a atenção foi sobre as eternas filas das mães em busca das matrículas para os filhos às escolas da rede pública.
Uma delas, numa escola da zona norte, mostrava que a fila já começara a se formar na sexta-feira para inscrições que abririam apenas na manhã da segunda. Mães ou responsáveis, com cobertores, cadeirinhas, guarda-sóis e até mantimentos, formavam uma paisagem colorida e alegre… mas humilhante aos personagens.
Essa situação que já adquiriu um caráter tradicional não poderia deixar de atrair outro comércio: o dos eternos aproveitadores da desgraça alheia, os tais vendedores de lugar.
No final do dia algumas mães choravam pela não conquista do intento devido ao preenchimento das limitadas vagas.
Ah! Como aguardava por esta oportunidade!
Não que a desejasse. Muito pelo contrário. Apenas porque, ciente da nossa realidade, sabia que viria.
Minha ansiedade era por poder mostrar a mesma questão encarada… “lá”, do outro lado do mundo.
Pois bem. Quando chegamos em Nagoya, em 1986, meu filho tinha seis anos, sendo, portanto, matriculado no Jardim de Infância.
E o incrível é que, em agosto desse ano, inesperadamente chegou-nos uma carta da Regional da Prefeitura informando-nos de que no ano seguinte nosso filho deveria se matricular numa determinada escola do bairro, perto de onde morávamos. Ou seja, meio ano antes, a vaga dele já estava garantida!
Como a Prefeitura sabia que ele já estava em idade escolar?
Simples! É que no Japão todo cidadão é obrigado a fazer o Registro de Residência junto à Prefeitura ou regionais. Por isso têm fichas completas, em seus arquivos, de todas as famílias do bairro!
Mas outra importante informação completava a carta. Pasmem! Nosso filho deveria comparecer à futura escola, em outubro para… exames médicos! Sim! A fim de que, se constatado algum problema de saúde, já pudesse ir providenciando o devido tratamento médico, para estar em plena condição de saúde ao início das aulas. Pode? Lá, pode!
Pois é! Dá ou não, vontade de “puxar a cadeirinha” desses tais vendedores de lugar?
(Essa Nipônica foi escrita á 25 anos, mas o fato citado ocorreu há trinta e cinco! Mudou algo no Brasil a esse respeito? Para não ser injusto, melhorou bem desde então, sim. Mas me parece que… a algumas escolas, ainda há mercado a esses vendedores de lugar. Né, não?!)
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