18/10/1996
Preocupados com o alto índice de suicídios entre adolescentes e crianças ocorridos no Japão desde o começo do ano, dois meses atrás, jovens estudantes voluntários ingleses promoveram um simpósio, em Tóquio, entre pais e alunos de várias escolas. Tema: IJIME (maltratos de alunos veteranos aos mais novos, aos menos estudiosos, etc.).
Trata-se de uma abordagem muito polêmica, principalmente partindo de estrangeiros. Mas em virtude de muitos deles terem sido as próprias vítimas de ijimes em suas escolas, num país de semelhantes condições, justifica-se essa iniciativa de enfrentamento ao problema.
No mês passado, no Japão, uma estudante impediu a realização de jogos internos de seu colégio com uma ameaça de suicídio. Alegava estar sendo vítima de ijime devido aos seus maus índices de notas.
Na mesma época, outro adolescente japonês cometeu suicídio, com uma espada, cortando o próprio ventre. Tal como o haraquiri. Não havia maiores detalhes na reportagem, mas tudo indica que o Ijime tem algo a ver.
Afinal, o que mais poderia levar um adolescente, no Japão, a cometê-lo? (ainda mais na forma como esse último ainda o idealizou) senão movido por alguma forte e alheia pressão diária?
Na verdade, o problema merece discussão bem mais ampla, sempre relacionado com a formação histórica, cultural e tradicional do país.
Dentro desse contexto, não posso deixar de citar um exemplo próprio que mostra bem essa pressão vinda, sim, de cima para baixo.
Senão vejamos.
Até a 6ª série do 1º grau, quando meu filho jogava no time de futebol da escola, no Japão, os meninos do grupo conviviam “numa boa”, sem nenhuma barreira pré-conceitual. Todos os domingos!
Retornando ao Brasil, meu filho foi para a 7ª série daqui, enquanto os amiguinhos de lá foram para o 1º ginasial (equivalente).
Nesse mesmo ano chegou, ao meu filho, uma carta de um dos amiguinhos de lá, do Shibata-kun. Dizia que a partir desse ano não mais brincaria com o Nagase-kun, vejam só… por ele ser… pobre!
Como assim? Até a 7ª série não era?!
Quem contou isso pro Shibata-kun? Héim?! Quem poderia ser?!
(Para mim, “desde sempre”, a Inglaterra foi referência modelo para o Japão. Talvez desde quando o ainda
príncipe Hiroito fez um tour de seis meses pela Europa, mais precisamente à Grã-Bretanha, em 1921.
Daí a razão de a mão do trânsito no país ser à esquerda. Mas não foi só isso, lógico.
O IJIME, em especial nas escolas, também veio de lá… com certeza)
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