28/06/1996
Duas grandes virtudes cantadas aos quatro ventos sobre os atletas japoneses são a dedicação e a capacidade de concentração em qualquer esporte.
Ainda bem fresco em minha memória está uma reportagem sobre os rigorosos treinamentos feitos pelas jogadoras daquele país que acabou resultando na conquista da medalha de ouro nas Olimpíadas de Tóquio. E é fato que a profunda concentração das jogadoras, durante os jogos, foi fundamental para a inédita conquista.
Em contrapartida, a tal “frieza nipônica” também é cantada no mesmo tom.
O maior exemplo está na manifestação milenarmente demonstrada pelos lutadores de sumô, que ultrapassa os limites do exagero… ao menos para o nipo-brasileiro aqui, de mentalidade latina.
Por apreciar demais esse esporte, sempre que possível, procuro acompanhá-lo com atenção. E o que percebi foi como o lutador já começa a concentração… no momento que toma seu lugar e se senta ao pé da arena (dojô)… duas lutas antes da própria.
Normalmente, ele não move “uma palha” nem para acompanhar as lutas anteriores que se passa bem diante de seus olhos.
A própria cerimônia de atirar o sal antes do início de cada peleja, mais do que o respeito ao adversário, para que não se fira, é repetida por 3-4 vezes, justamente para propiciar, aos lutadores, a perfeita concentração para o exato momento do embate.
Até aí tudo bem… e é impressionante!
O problema está no “logo após”, para este escriba de formação ocidental!
Depois de acompanhar vários torneios de sumô, no Japão, observei que os lutadores japoneses nunca demonstravam, imediatamente após a luta, a felicidade da vitória conquistada com muito esforço e tensão. Nem mesmo quando esta significasse para eles a conquista do torneio.
Mas quando, certa vez, vi um lutador havaiano, radicado no Japão, não se conter após vencer a luta que lhe deu o almejado título… fiquei igualmente emocionado.
Por ter sido a penúltima luta do dia, ele ainda teve de retornar ao seu lugar ao pé da arena. Lá, devidamente sentado, novamente, traduziu em prantos a alegria da conquista, algo impossível de se ver em um nativo japonês.
Lembrou-me um dos aspectos que aprecio muito nos atletas brasileiros.
(Quando morei no Japão não perdia uma temporada desse esporte que passava na principal emissora de TV japonesa, a estatal NHK, ao vivo. Em 1985, para espanto e admiração dos vizinhos japoneses, de bicicleta, fomos até o ginásio de esportes de Nagoya, onde ocorria a temporada local, para assistir “in loco” a uma das rodadas)
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