Com o olhar de gaijin (estrangeira), observei que, num dos salões da Embaixada do Japão em Brasília, os convidados foram separados em nove grupos por regiões do Brasil, no formato de uma ferradura, um ao lado do outro, olhares se cruzando com muitas interrogações. A imprensa ficou no recuo do salão para registrar a apoteose, quando o Príncipe Herdeiro Naruhito acompanhado do Embaixador do Japão no Brasil, Akira Yamada entrou no salão, o silêncio tomou conta do ambiente, só se ouviam os cliques das máquinas dos fotógrafos. O nervosismo e a felicidade e contida dos convidados, mas estampadas nos rostos de todos, falavam por si só. O encontro de sua Alteza com os líderes nipo-brasileiros era de muita ansiedade e pairava no ar muita emoção, que tomou conta do ambiente.
Para surpresa de todos, o Príncipe Herdeiro Naruhito deixou de lado o famoso “ojigi”, (o ato de cumprimentar oriental, curvar-se), para dar lugar ao tradicional e afetuoso aperto de mão e um caloroso sorriso à moda ocidental, para a felicidade dos Nipo-Brasileiros. Cada líder se apresentou quase que num sussurro, numa conversa ao pé de ouvido com Sua Alteza, ninguém falava alto, bem à moda japonesa. A presença feminina entre os 60 convidados chamou à atenção, eram seis mulheres de destaque, que representaram as lideranças nikkeis pelo Brasil, mostrando a autonomia e participação das mulheres nas comunidades nikkeis. Sempre sorridente, porém contido em suas emoções, o príncipe ouviu atentamente cada um dos interlocutores, olho no olho.
Impecavelmente alinhado e elegante em um terno azul marinho, com gravata estampada bordô e branco, e camisa de risca de giz, cabelos aparados que cobriam a testa. De uma simplicidade notável, com uma disposição invejável, cumprimentou um a um os sessenta convidados, sempre sorridente, conquistando a simpatia de todos.
Todas as mídias japonesas estavam presentes, foram divididas em dois grupos: um grupo de imagem e outro de escrita. Participei do grupo da mídia escrita. Não sei o que falavam (o príncipe e os convidados), em conversas muito íntimas ao pé de ouvido e em japonês. Por não entender japonês, pois não tinha tradutor, tive que ficar atenta aos gestos e expressões e pelo sussurro de ambas as partes, era uma comunicação de expressões e impressões. Incrível era a serenidade na sala, era quase impossível ouvir os cumprimentos e as falas.
Na ocasião os parlamentares nikkeis como Keiko Ota, Junji Abe, Walter Ihoshi, Luiz Nishimori e Hidekazu Takayama, ministro Masami Uyeda e o empresário e advogado, Masato Ninomiya ficaram em uma sala separados para receber os cumprimentos do príncipe Naruhito.
Confiram os depoimentos de alguns participantes da recepção ao Príncipe na Embaixada Japonesa em Brasília.
“É uma satisfação muito grande receber e cumprimentar o futuro Imperador do Japão, neste ano em que comemorando os 110 Anos da Imigração Japonesa no Brasil”, diz emocionado o presidente do Enkyo, Akeo Yogui.
“É uma alegria muito grande apertar a mão do príncipe e futuro imperador do Japão. Falei das ações e práticas para disseminar e fomentar a cultura japonesa na Bahia, região onde a presença japonesa é pequena, porém a cultura japonesa muito apreciada. Ele me ouviu atentamente e fez várias perguntas”, destaca Lika Kawano, presidente da Associação Cultural Nipo-Brasileira de Salvador (ANISA).
Outra presença feminina na Embaixada do Japão em Brasília foi a jovem nikkei, Patrícia Murakami, recém-eleita presidente da JCI Brasil –Japão comentou sobre a cerimônia de recepção de Sua Alteza, o Príncipe Naruhito, futuro Imperador do Japão na Embaixada do Japão em Brasília. “Foi um privilégio representar a JCI Brasil-Japão em meio a tantas autoridades e líderes nikkeis de norte a sul do Brasil, fui premiada”, pontuou Patrícia.
A felicidade tomou conta do Presidente do Conselho Deliberativo da União Cultural Esportiva do Sudoeste, Yasuhiro Fukuju ao comenta que, “pela primeira vez que participo de um evento de tamanha envergadura e responsabilidade da UCES, que representa 24 entidades dos Bunkyos de 24 cidades do Sudoeste Paulista”. E complementou emocionado, “A UCES completa 70 anos de atividades este ano, esse foi o maior presente que nós ganhamos. O mais interessante foi a quebra de protocolo por sua Sua Alteza, cumprimentando a todos nós com um aperto de mão. Foi como se tivesse me abraçado, a energia foi muito boa. O príncipe foi muito simpático e carismático”.
O jovem Claudio Kurita que representou a Japan House São Paulo, destacou a oportunidade de reencontrar o Príncipe Herdeiro Naruhito. “Foi um privilégio muito grande representar a Japan House São Paulo e a comunidade nikkei. A emoção realmente toma conta da gente. No próximo ano ele assumirá o posto de imperador. Muita gratidão”, conclui Kurita.
O representante da Federação das Associaçoes Culturais Nipo-Brasileira da Noroeste, Shoji Korin destacou a importância do encontro com Sua Alteza Naruhito. “Foi muito importante na minha vida, não é toda pessoa que tem a oportunidade de apertar a mão do futuro imperador do Japão. O príncipe é muito simpático e receptivo, tem uma memória muito boa, não fez perguntas repetitivas aos convidados, fiquei muito satisfeito”, finaliza Korin.
Com o olhar de gaijin, observei durante os 45 minutos de permanência do príncipe Naruhito, o ambiente exalavam vários sentimentos: de respeito, de admiração, de gratidão, de encantamento e de felicidade de ambas as partes, que evoca uma série de considerações, nem sempre completamente compreensível à maioria dos ocidentais.
Sua Alteza deixou os convidados muito à vontade para lhe confidenciar suas atividades, para deleite de todos, inclusive o meu. Atenta e com “olhar brasileiro”, emergi no universo tradicional de valores japoneses, que provoca encantamento em quem assiste, aprecia e, em muitos casos, tem uma atração irresistível.
Deixe seu comentário